quarta-feira, 7 de maio de 2008

Guilherme e o pó de pirlimpimpim.


_Terás seios fartos e carregarás a marca do Oriente.
Estas foram as palavras da fada madrinha, abençoando o bebê recém-nascido, envolto em panos brancos, todo rosadinho, todo novo, todo em branco, como folhas de papel branco.
Enfrentamos aqui o começo do problema: a fada é cega coitada. Já carrega seus oitenta e nove anos e há muito fora vítima de um glaucoma. Mas as fadas sempre são muito exotéricas e essa sempre confiou em sua intuição feminina e de ente mágico.
Falha.
O bebê era um menino. Coitado. Não fugiria nunca de seu destino. Depois que uma fada disse o que iria acontecer nada poderia ser mudado. Nada.
Sempre fora parecido com uma menina. Muito parecido. E se dava muito bem com as meninas de verdade. Brincava com elas, de casinha, ele sempre era a mãe. Uma vez quis ser a empregada que tinha um caso com o patrão. Sim. Ele assistia a muitas novelas.
A vida corria interessante. Aos doze começou a tomar hormônios escondido dos pais. Hormônios femininos. Como conseguira fica escusado de esclarecer. O peitinho começou a crescer. As formas ficaram mais arredondadas. Começou a se orgulhar muito de suas pernas. Pensava nelas dançando em seu baile de debutantes todo cor de rosa.
O primeiro namorado veio aos dezesseis anos. Era o ajudante de pedreiro que trabalhara na reforma da casa dos pais.
O silicone aos dezenove. Foi com essa idade também que fez o primeiro programa. Não era na televisão. E ganhou pouco, no máximo quinze reais. Mas chegou a pensar que teria um futuro brilhante. Não teve.
Nunca foi à Itália, não morou em Milano, não conheceu nenhum belga rico, não desfilou no carnaval do Rio de Janeiro.
Em compensação viciou-se em crack. Adorava fazer, quando louca, sexo com os menininhos. Era assim que ela chamava os mini-traficantes da droga que encontrava. De pedra. Literalmente. Foi nessa época que teve que operar as hemorróidas. Isso porque trepava entorpecida e não sabia se o que estava sentindo era um pinto adolescente bem desenvolvido ou simplesmente um pedaço de cano de p.v.c.. Às vezes era pau mesmo.
Feliz.
Desintoxicou-se depois de perceber que ja tinha perdido três de seus dentes. Os que sobraram não durariam muito tempo. Savanah! Era esse seu nome. Sempre gostou de nomes exóticos. Já foi Mitiko em um carnaval em que fantasiou-se de gueixa erótica. Mas isso é passado. E dessa fase guarda apenas as fotografias. Prefere a presente situação de dona de casa. Sim, casou-se. Ele é o Jorge. Pedreiro. Fetiche. Dedicado e trabalhador. Ex-usuario de crack. Queria ser evangélico.
Agora ri sinceramente, o seu riso falho, meio simiesco (até que combina bem com o nome) toda vez que o marido lhe compra um pote de água oxigenada volume quarenta e um saquinho de pó descolorante.
A vida é tão mágica.
Ofertas e promoções de notebook, camera digital, iPod, computadores, etc