terça-feira, 12 de maio de 2009

"Quando eu crescer, quero ser feliz como a Barbie!".


Lucinha sempre ficava tensa quando falavam em casamento. Sentia uma dor semelhante a um beliscão forte no mamilo quando lhe falavam que ela iria crescer, virar uma mulher linda, se casar, ter uma linda casa na qual cozinharia e lavaria e limparia para um homem que com o tempo poderia chegar até a dobrar de tamanho e claro, dois lindos filhos hiperativos. Lucinha ainda era uma menina de apenas sete anos e não sabia nem o que poderia acontecer dali a cinco minutos, quanto mais o que poderia acontecer anos depois.
Nessa época um circo passou pela cidade, ficou uma semana e depois foi embora.
Vinte anos depois Lucinha é lésbica. É também motorista de caminhão. Lucinha não confessa a ninguém que dorme com uma meia enfiada na cueca imitando o que poderia ser um pênis.
O vizinho evangélico a chama pelas costas de "a mulher barbada".

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Da fundação da Escola de Arte Surrealista de Frutal.


Levanta! Vai ver o que acontece lá fora! - é o cachorro que late e que se pudesse diria isso ao dono que dorme jogado em um móvel (tudo o que se pode mover) que provavelmente substitui funcionalmente um sofá.
Bebado! - é o cachorro que já não tem mais vontade de latir e que se pudessemos dizer isso, resmunga, talvez como protesto. Bebado, o dono dorme, seu abdome oscila como uma gigantesca onda gorda e branca. O ronco é perceptível na casa vizinha. Talvez isso seja um exagero, no quintal, na calçada já seria muito. Um certo fedor denso e quente toma conta do ar: cigarro, cerveja, suor, peidos e um bafo que os mais exigentes diriam ser o de algum bicho morto. Todo mundo exagera muito. No sonho: Penélope Cruz. Insinuante.
A ressaca tem um poder revolucionário: Penélope nem chegará a ser lembrada em função de uma dor de cabeça que possivelmente dói mais que a própria vida. Um banho para o recomeço da recuperação. Os dentes serão escovados com uma certa dificuldade, talvez ele até vomite. Depois disso o dia transcorrerá lentamente. Mas isso não é agora. Ainda não. Uma ou duas horas.
O cachorro volta a latir desesperado.
Absolutamente desesperadamente.
Um imenso porco cor de rosa ocupa metade da sala. Ele também ronca.
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