sexta-feira, 30 de março de 2007

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Não vou mais... Não insista por favor. A máscara da felicidade hoje não me cairá bem.

Hoje quero ser arrebatado aos céus. Estou puro comigo mesmo, e imploro pelos dias de prazeres regados a mel e leite. É. É por isso que vou ficar aqui.

Cansei de enxurradas etílicas.

Quero estar junto com os puros como eu... Nos daremos bem. Os iguais se repelem, mas dentro da massa amorfa que estou caminhando não existe função em ser diferente.

Quero a liberdade desesperada de ser igual a todos.

Que venha o juízo final.

domingo, 25 de março de 2007

O abandonado.

O barulho da sirene era suficiente para despertar as maiores histerias infantis. As crianças saíram correndo pelo portão. 17:05.

Abraços fortes em pais duramente separados durante quatro horas e meia, intermináveis.
Ele estava ali no meio. Uma barulheira, histórias a serem contadas com euforia. Ele também estava ansioso como os outros, mas cadê a mãe? Não tinha pai, nunca tivera. Ele nasceu da vontade da mãe de ter o filhinho mais lindo do mundo. Essa era sua história, ou pelo menos a que ele carregava dentro de sua cabeça e coração, porque ele mesmo pequeno, sabia que os sentimentos se guardavam sempre no coração.
A mãe começava a demorar, mas nada extraordinário. 17:15.

A frente da escola já estava quase vazia, o portão fechado e um zelador engraçado que conversava sozinho enquanto varria a calçada repleta de folhas secas e de toda a sorte de plásticos que embalavam os doces e outras coisas que eram comidos no ritual da saída. Elas, as crianças não comiam maçãs. Raras vezes.
Já não esperava de pé, tinha tirado a mochila das costas e se sentado na sarjeta. Ficou olhando os passarinhos e o seu canto que começou a se confundir com “Pour Elise” vinda da esquina, propagada aos ventos por um feio caminhão de gás. 17:27.

Ele começou a se lembrar de tudo que fizera depois que se separara de sua mãe. Não podia esquecer nenhum detalhe, ela ia gostar de saber de tudo, ela sempre gostava. E hoje tinha acontecido tanta coisa: correu, pulou, comeu, as tarefas feitas em classe, as por fazer em casa, e um ralado no joelho que tinha sido limpo e desinfetado e que estava meio alaranjado. O anti-séptico usado foi que tingiu sua perda de uma cor que não lhe era natural. As lembranças todas guardadas. 17:34.

Uma professora passa de carro e lhe oferece uma carona. Ele aceita, ia encontrar a mãe pelo caminho e ainda lhe economizava alguns passos. Ela merecia, coitada, sempre tão cansada. O caminho feito com uma paciência cotidiana agora passa rápido. Um mundo conhecido, visto de outra forma. Chegou na porta de cassa. Corre pelo portão. O carro vai embora. 17:41.

No dia seguinte ele não foi à escola. A noticia saiu no jornal impresso: “Bala perdida mata mais um. Dona de casa é vitima de tiroteio.”
Ele sozinho chora. Chora muito. Muito...

Não existem mais horas.

sexta-feira, 23 de março de 2007

FRUSTRADA.




A mãe quis escolher o nome da recém nascida: Medéia. O pai, assustado pelo absurdo da escolha tentou persuadi-la de que esse não era um bom nome... Irredutível, era essa sua escolha e sua vontade. Cedeu-se ao capricho.


Alíce sempre fora uma pamonha na vida, queria que sua prole não seguisse o mesmo caminho e em devaneios visualizava todas as atitudes, personalidades, canalhices e toda a forma de sordidez de que a filha seria capaz de fazer para vinga-la de sua vida insossa...


Medéia seria má...


A menina não seguiu a sina de seu nome, imaginada por sua mãe.


Se dedicou à religião e passa muito bem obrigado. É madre superiora num convento de Carmelitas Descalças. O pai, que nem convém citar o nome, teve um sublime orgulho.


Alice não suportou o baque, ficou louca, e teve que ser internada em um sanatório. Danos irreversíveis em sua mente. Em seus ataques sai gritando pelos corredores e sua voz abala todas as estruturas da casa de loucos: "Os dois vão pagar o resgate dos meus ais..."


Que vida cretina.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Um caso bebado.




Adalberto Vasconcelos de Gouveia era um bebado. De fato um alcoolatra. Dadá, como era conhecido pelos muitos amigos que fizera durante a vida era boa gente. O sorriso sempre largo na cara e as perocupações distantes.


- Oh Almeida, me vê uma gelada aí...


-E o futebol?


-Sabe aquela gostosa da novela, saiu peladona na revista!


Sempre foram esses os seus interesses. Na verdade nem sempre...


Dadá ja tivera uma vida comum. Não que a vida dele não fosse comum, mas ja havia seguido melhor as regras. Já havia seguido as regras...


Sempre fora bom aluno. Universidade Federal. Um bom emprego. Chegara até a se noivar com a filha do Edgar da loja de auto peças: Glorinha.


Ia se casar com ela, moça bonita, virgem, até descobrir que fazia tempos a piranha dava pro Pé de Mesa, um negão encanador do prédio em que ela morava. Dadá ia perdoar, mas não aguentou a humilhação comparativa dos seus 16 cm.


Foi quando a desgraça chegou...


Começou a frequentar mais o bar do Almeida, até então quase desconhecido dele. As noitadas se estenderam... Mas tudo acontecia de forma natural, seguindo o curso.


Treze anos depois Dadá ja era grande conhecido dos bares da cidade. Va-lá que a cidade é pequena, nada de se impressionar, mas também ficou conhecido da boemia suja dessas noites, e conhecido também de algumas mulheres que não carregavam a beleza como predicado. E olha que nem todas eram pagas.


Até voltou a se apaixonar: Suely. O romance foi breve. Em uma ocasional sobriedade descobriu que ela se chamava Honório Azambuja. Desconsolo... Como o pior é infinito a visão do banho sendo tomado no dia seguinte enojou Dadá. Não, ele não era um homem preconceituoso, só não curtia.


Prometeu nunca mais beber.


O jejum durou 11 horas e 32 minutos, depois nunca mais parou. Mentira...


Hoje ele não bebe, está internado na Santa Casa de Misericórdia leito 17. Cirrose hepática. espera convulsionando sua abstinência.


Dadá bebeu a vida toda, e mijou ela toda depois.. A vida é diurética.


Depois de amanha vai morrer sozinho. Não deixa nem família nem saudades.

Ócio


A falta de ocupação leva o ser-humano a atitudes desesperadas. A minha é essa... Talvez levado pela falta de identidade ou individualidade do contemporâneo ou simplesmente pra escrever bobagens e mostrar pros amigos perguntando se tá bom ou não...
Quem sabe um dia não seja um escritor, tenho que começar a treinar meus dotes pseudo-intelectuais, afinal, Paulo Coelho, meu grande mestre, não começou sua glória literária do dia pra noite... Na verdade começou, mas isso é irrelevante... Eu chego lá ou resolvo viver gritando o resto da vida: "Nunca mais passarei fome...", mesmo passando fome.
Eu não tenho vocação pra Scarlet.
Péssimo...
Aqui faz frio.
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