segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Saninha.


Minha avó varre o quintal. É um quintal pequeno, sem muita sujeira, apenas algumas folhas que caem da árvore da calçada da vizinha. Todas as manhãs. Conversa com alguém que passa na rua. O sol está morno nessas horas, não ofende a pele enrugada. Muitos anos. Muito mais rugas do que anos. Minha avó se parece com uma ameixa seca. Tem cheiro de gente velha. É desonesta com o banho.
Na cozinha minha tia faz um café. Solteirona, sozinha. Ficou assim para tomar conta da mãe velhinha, tadinha. Não planejou isso, mas é bom que seja assim. Em troca de que viver tanto tempo? Para contar o que viu de bonito e de feio? Talvez seja pra rezar baixinho pelos seus treze filhos.
Minha avó cochila na frente da televisão. Todos os dias.

Talvez realmente Deus não exista.


Sofre de amores que só ele pode sofrer. Dividir a dor é feio. Bonito mesmo é rir todo mundo junto.
_ Pois não!?
_ Dois pães.
( Um minuto. Uma velha com uma bengala pega um saquinho de leite. Tipo C.)
_ Mais alguma coisa?
_ Não. Obrigado.
O homem paga a conta. Leva dois pães porque não tem com quem dividir. Mora só. Não tem amigos. Família nenhuma. Não tem namorada. Está apaixonado pela prostituta que pegou há duas semanas. Travesti. Os dois pães são por causa da gula.
A balconista recebe o dinheiro trocado com um sorriso automático no rosto. O homem vai embora. A camiseta tem um furo nas costas.
_Coitado.
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