quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dor. Sofrimento. Desespero.


Você assistiu O Anticristo do Lars Von Trier?
Não. É bom?
É estranho. Muito. Denso, forte, explícito, tem um pinto.
Uia, vou baixar, pelo pinto, é claro!
Nem compensa só por isso...
Plaquinha: ironia!
Hummm.

Bee!
Fala!
Nada não... Só pra ver se seus reflexos estão rápidos!
Sou quase uma atleta!
Principalmente com a mão direita né?
Principalmente ultimamente.
Eu tenho feito sexo sem sentimento, mas também...
Eu tenho batido punheta.Quatro por dia tirando por baixo.
Só bato punheta quando vejo que a maré tá baixa e num tô com paciência de esperar macho... Isso acontece muito...
Pois é!
No entanto...
A minha última foda foi em janeiro. Eu voltei a morar com meus pais, você sabe. Essa cidade só tem bicha feia e pobre!
Ai bee! Para. Tenho 3 contatos maravilhosos para sexo casual. Muito gostosos. Muito. Mas é bem isso, usamo-nos um pouco e tchau! São "heteros", (Risos irônicos e descontrolados.)
Sinto falta da época em que eu tinha contatos. O meu celular tocava de madrugada e eu atendia e falava pra ligar no dia seguinte. Acordava com a auto-estima bombando.
Então, engraçado isso! Faço sexo com eles, são realmente sarados, gostosos e tal... Mas, num sei. Minha auto-estima num melhora com isso, tudo bem que a recíproca é verdadeira... Mas parece que me sinto usado demais... Acho q no fundo estou começando a sentir o amargo disso tudo.
Namora, bicha!
A recíproca é verdadeira no sentido de que também uso eles.
Para ficar dando atenção a uma pessoaSe dedicar.
Eles num namoram, bee.
Comprar chocolates.
Eles têm namoradas.
Mesmo que a pessoa não seja interessante. Não estava me referindo a esses.
Comprei uma caixa de bombons ontem.
Eu estou falando de um qualquer.
Ai, será? Vou me arrepender, e depois fico com dó de terminar e tenho q ficar arrastando uma cruz até não aguentar mais.
Arraste por um tempo determinado, pra sair da promíscua, pra ficar mais calmo...
Acho que não consigo sair da promíscua sem me apaixonar. Eu falei pra você. Sou meio viciado... Não estava brincando.
Hummm!
Louco é que quando tô transando...
Aff.
Tem caras q ficam falando um monte: você é gostoso e não sei o que mais e eu sempre fico calado. Geralmente gosto de estar chapado na hora e fico viajando. Posso estar pensando também “que cara gostoso”, mas nunca falo.
Só faça o favor de não se tornar uma daquelas bichas velhas que fazem tudo por sexo e ficam nas salas de bate papo até as seis da manhã, implorando atenção, nem que seja para conseguir bater uma punheta pra um boy de 18 anos... Eu não suportaria isso. Acho feio.
Nem eu né bee! Tô por cima e vou sair por cima, não me ofenda!
Eu num falo nada também e dou risada dependendo do que fala. Não combina comigo ficar falando. E tem coisas que eu acho meio incoerentes...
Também acho. É uma coisa para sentir...
Ficar falando “vou te comer” se já to comendo!
Mas sabe o que notei?
Deixa eu te estourar! (Gargalhada.) Sei lá...
Estou cada vez melhor de cama! Eles estão ficando loucos!
Eu estava ficando. Tenho medo de perder isso. É ótimo né?
Eu não sei.
Quanto mais controle...
Acho bom por um lado...
Melhor se fica!
Mas por outro quando quero me envolver...
Eu estava ficando mais despojado, agressivo...
Às vezes o cara pressupõe que sou uma puta.
Apertava, empurrava...
Só porque sou safado!
Jogava...
Eu não jogo tanto. Sou mais simples, mas sei caprichar no trivial.
Jogava na parede, bicha, na cama...
Ui!
No sofá
Adoro!!!
Eu estava ficando bem bom nisso. Agora eu me masturbo.
Arremesso de biba? (Risos maldosos.) Ai bee, sai dessa vida!
Quatrocentos metros. Medalha de ouro!
Bom, preciso acordar, hoje vai ser foda. Tenho que pagar o aluguel, ir no banco, na faculdade, pegar a bike no conserto, fazer compras e estudar, tudo antes das 20h. Depois palestra do teatro épico e festinha na casa de uma amiga. Acha que dou conta? Acho que esse vai ser o dia mais cansativo da semana. Já tô com preguiça.
Para de reclamar com antecedência. Reclama depois. Aí você fala que fez tudo isso, que ta cansada, que encheu cu de farinha.
Quem me dera eu tivesse contato. O meu caiu, faz séculos que não cheiro. Bom, vou tomar banho. Beijos.
Tchau bee. Se cuida.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Menino da mamãe.


São sete horas da noite e Alfredão bebe uma cerveja. É a rotina. Todos os dias ao final do expediente ele passa pelo Bar do Zanão, toma quatro garrafas e vai para casa relaxado e pronto pra descansar. Alfredão é mecânico. Aos sábados e domingos não bebe apenas quatro garrafas, porque afinal são dias para se aproveitar a vida.
- Eu gosto é de buceta.
Fedão fala isso todo dia invariavelmente, mudando a conotação, ou talvez a forma com que a sentença é inserida no discurso. Fedão é para os íntimos. Mas todos podem chamar de Fedão porque intimidade é um valor bastante deturpado para quem gosta de fazer as declarações que esse faz.
- Chupo mesmo, até desfazer o grelo! (Risadas histéricas, masculinas.)
Alfredo Silva dos Reis segura o copo americano com suas mãos sempre sujas de graxa, por mais que as lave nunca ficam limpas completamente, enquanto olha para uma mulher que passa ligeira na frente do bar mas do outro lado da rua. Ela deve ter uns trinta e cinco anos, gordinha, bermuda justa, rebolativa. Ele tem trinta e nove, barriga, bigode, careca, calça rasgada suja de mais graxa e óleo meio caída na cintura, regata, boné.
- Se eu pego essa dona eu deixo ela bamba, vai ver o que é rola de verdade. (Risadas e quase gritos. Alfredo tem muitos amigos no bar.)
Fedão come um espetinho de carne de porco, bebe sua quarta e última cerveja dessa quarta feira e vai para sua casa, que já são quase nove e meia. Os amigos se despedem. Alguns também vão embora enquanto outros provavelmente ficarão ali até um pouco mais tarde. Fedão chega logo em casa, fica perto, a bicicleta ajuda a fazer o caminho mais rápido. Entra pelo portão, tranca o cadeado, guarda a bicicleta. Alfredo mora sozinho, a casa é sempre uma bagunça que não o incomoda, visto que ele mesmo tenta arrumar muito raras vezes. Vai para o banheiro. A roupa fica jogada em cima de uma pilha de revistas pornográficas antigas, sujas e bastante vulgares. O banho dura no máximo quinze minutos.
Veste uma cueca velha e está pronto para dormir. É ali no quarto escuro, deitado na cama encostada na parede, virado para o canto quase escondido que ele, Fedão, se sente confortável na sua masturbação. Ele sempre se imagina sendo possuído por diferentes tipos de homens. O de hoje é mais forte que ele, mais alto que ele, mais viril que ele, tem um bigode maior, é mais careca, mais barrigudo, tem um pinto maior.
- Eu chupo tudo.

E na manhã seguinte enquanto os pássaros cantam Alfredinho, sua mãe sempre o chamou assim, pedala até a oficina em que trabalha, com um sorriso no rosto, cumprimentando as pessoas conhecidas que passam pela rua.
No peito um misto de amargura e autonegação.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu disse oi. Talvez ele não tenha visto...


Ultimamente chove todos os dias. E chove o dia todo também. E vem um sol regalado. Tudo intercalado e bem costurado como é de se acontecer quando são coisas naturais. Tinha parado um pouco a chuva e Dudu saiu para ir na padaria. A mãe tinha pedido que ele buscasse tres pães para tomarem um lanche. É impressionante como para um menino de oito anos três quarteirões podem ser tão longos e talvez tão interessantes. Dudu ia andando meio pulando meio parando, olhava para o alto e para baixo e para os lados e via tudo e não via nada como acontece quase sempre com as crianças. Se não fosse essa predisposição para o delirio caminhante infantil ele teria visto o cachorro. Sentiu apenas os dentes rasgando sua coxa. O cachorro marrom babava histéricamente e arrastava o menino pela calçada. Quanto mais mordia mais prazer sentia e não via nada. O menino também não via mas por outros motivos. Sentia a dor do mundo entrando-lhe pela perna como ferro quente, sem dó lhe rasgando os músculos de novilho humano e a cabeça batendo pelo ladrilho e os braços esfolados e as lagrimas escorrendo.
Ninguém ajudou, ninguém viu.
Quando conseguiu arrancar o pedaço o cachorro saiu.
O menino ficou sangrando, chorando, as moedas espalhadas pelo chão, o coração acerelado de maneira incontrolável.
O cachorro não comeu a carne do menino, cuspiu fora o pedaço que arrancou e foi se deitar embaixo de uma sombra tranquila.
O menino foi encontrado pela mãe preocupada com demora de mais de cinco minutos. Ela o levou ao médico, cuidou, chorou, abraçou...
O menino manca, e vai mancar pelo resto da vida.


É assim que me sinto hoje.

domingo, 4 de abril de 2010

Centro de Atenção Psicossocial.


Naná acordou por volta das nove e meia nesse domingo de páscoa meio ressaqueada graças a quatro batidas de maracujá com vodcka paraguaia mas que o dono do bar dizia ser russa e legítima. O ovo solitário tá esperando no armário do quarto. Ela mesma que comprou, que esses tempos de papai comprando chocolate às baciadas já se foi. Mamãe morreu faz tempo. E o Cristo também. Mamãe descansa. O Cristo coitado...
Naná sempre vê a vida com delicadeza e simpatia. Mentira. Ela é impaciente e antipática mesmo, mas talvez assim seja melhor do que viver achando que foi rapitada pelos ursinhos carinhosos e levada para morar numa nuvem. Cor-de-rosa. Com essa natural beleza de vida Naná começa a ouvir a fanfarra invadindo sua casa. Os tambores e os pratos e os apitos e as cornetas e os trompetes vão surgindo de todos os lugares. E são adolescentes. Os tocadores, não os pratos. Nem os tambores. Nem todo o resto. E a vontade súbita é de sair correndo feito uma baliza louca, de calcinha e sutiã com a teta esquerda escapando para fora, mordendo forte com os belos dentes que Deus lhe deu, as vezes tentando gritar mais alto do que todo o barulho do mundo é sentida.
Naná se controla. Nem todos os instintos podem ser seguidos inconsequentemente.
O barulho acaba.
Naná vai lavar a louça.
Hoje é domingo. Claro. Redundante.
O ovo fica para mais tarde.
Naná trabalha no Caps. Ela abraça os doidinhos. Eles se aquecem com ela.
Ofertas e promoções de notebook, camera digital, iPod, computadores, etc