segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ideias reutilizadas. Palavras repetidas. Frida. Pizza.


Quando Carlos compreendeu a verdade que o cercava sentiu o vazio. O vácuo. Nada.
E não podia esperar nada do nada. Tudo lhe soava falso. Ele era o único verdadeiro, o único que não ensaivava seus próprios atos.
Na verdade ele era como todos os outros. Insinceros. Sua única verdade era a falta dela mesma.
"Vamos?"
"Não."
"Vamos! Todo mundo vai.
"Eu não."
"Porquê?"
E Carlos se apagava. Talvez toda essa tristeza, esse desassossego, essa solidão fossem apenas fome.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Formicida.


Quando o sono começou a abandonar o corpo de Mariana nessa manhã a primeira consciência que lhe veio à cabeça não foi feliz, ou talvez seja. Primeiro de Julho. Tentou se segurar em vão no sono que já escapava de vez. Não adiantava mais. Ficou ainda uns vinte minutos ou mais deitada, de olhos fechados. Sentia que o quarto já estava mais quente, que o sol convidava para um dia possivelmente azul com nuvens brancas e brisas leves meio frias meio mornas.
Não queria se levantar, mas acabou fazendo-o com certa resignação. A cama vai ficar amarrotada. Devagar vai até o banheiro, olha-se no espelho. Desgosta-se. Tudo lhe parece feio e realmente é. Gorda, branca, descabelada, descuidada. Antes de escovar os dentes sente a tristeza de ser quem é. E como o tempo respeita mais a tristeza que a alegria o dia vai passar vagarosamente.
Sentada em uma cadeira na cozinha ela espera que a água ferva para poder passar o café. Sentada ela pensa no marido que foi embora, e que “não aguenta mais”. Lembra-se da triste carta de despedida que recebera, não fora digna sequer de um telefonema. Quase um bilhete. Sentia o útero secando como uma ameixa quando se lembra daquele “não te quero mais” rabiscado com desleixo e desdém em uma folha de caderno.
Enquanto a água não começa a borbulhar, Mariana lembra-se do que já foi. E isso é um pleonasmo, pois para se lembrar de qualquer coisa, ela já deve ter acontecido. Senão não são lembranças, são devaneios, sonhos, delírios ou ócio. Sentada ela se lembra dele entre suas pernas, entre seus seios, entre seus abraços. Lembra o suor escorrendo devagar pelas costas, lembra o beijo demorado, lembra o cheiro doce, o gozo forte, o sono tranquilo.
A água ferve. A garrafa térmica já está preparada com o coador e o pó. Logo o cheiro reconfortante do café quente começa a se espalhar pela casa. “Ele gostava do meu café”, suspira. Lembrou-se do primeiro beijo, cinco anos atrás, exatamente naquele dia. Um beijo delicado.
Neste momento Mariana está sentada, olhando para a geladeira, como se não estivessem ali nem a geladeira nem ela mesma. Talvez estivesse em São Paulo, com outras mulheres e outros amores.
O café estava mais amargo que o de costume.
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