Quando Hans Staden voltou para a Europa depois de ter passado anos como cativo dos Tupinambás, aconteceu-lhe algo que poucos amigos íntimos perceberam. Na verdade amigas. Não queria mais ver mulheres nuas. A nudez tornara-se banal a seus olhos. Não sentia nenhum prazer em ver um seio descoberto. Isso aconteceu comigo de certa forma. Há dez anos.
Fui habitué de uma boate que ficava próximo ao centro da cidade. A música era ruim, mas a cerveja gelada era servida em copos grandes por moças nuas. Os clientes eufóricos engoliam de cada vez meio litro de cerveja, como fazia calor lá dentro. Como elas eram sedutoras, insinuando-se para todos com sorrisos largos em seus lábios vermelhos. Quando sentiam sua teia se mexer, essas viúvas negras carregavam suas presas para algum dos vários quartos que havia ali, todos muito limpos e bastante simples. Uma cama e uma mesa. Nessa hora todas eram bastante objetivas. Meia hora depois desciam já de banho tomado, colônia renovada e mais batom nos lábios. Os clientes satisfeitos não queriam mais bebida, pagavam suas contam e saiam para a rua olhando para os dois lados com olhares baixos, desconfiados.
Nunca tive dinheiro para subir com uma delas para os quartos, nem sabia como eram. Sentava-me ali, tomava duas ou três cervejas e assistia àquela movimentação bastante curioso. Esforçava-me para não perder nenhum detalhe, desde um sorriso torto de desgosto até uma mão despudorada na coxa. Quando acabava de beber pagava o que devia e caminhava até minha casa que era perto dali. Tomava um banho e imaginava as noites de sultão que passaria ali se tivesse um salário pelo menos três vezes maior. Gozava, dormia, levantava, trabalhava e depois mais uma vez no bar. Tornei-me amigo da dona e das meninas que me tratavam com gentileza absoluta apesar de sempre estranharem minha abstinência. Com o tempo perdi o tesão. Tudo ficou natural demais.
No começo com os domingos. Era o dia de descanso das meninas e dos clientes que passavam as noites com suas famílias cochilando na frente da televisão enquanto a mulher e os filhos disputavam quem gritava mais. Isso não acontecia comigo. Depois comecei a gostar da folga que me despertava uma pouco de saudade. Kátya, Sabryna, Flavya, Crys, Byanca e Helena. Talvez não fossem seus verdadeiros nomes, o que nunca me importou verdadeiramente, pois para mim tudo aquilo era verdade. A maior verdade era Helena.
Mulata, corpo miúdo, dentes brancos, peitinhos firmes que apontavam indiferentes para o horizonte, a bunda mais linda que já pude ver em toda minha vida. Apenas um defeito: já veio nua. Não tinha a beleza poderosa daquela outra Helena, a de Tróia. Os impérios não iriam se guerrear por seu sorriso. Até usei essa história em uma cantada totalmente mal sucedida. Sorriu-me com desdém e sentou-se no colo de outro. Achou que estava bêbado demais nesse dia.
_ Você ta muito chato!
Resignei-me.
Só depois de duas semanas é que fui perceber um sorriso diferente em minha direção e me fechei. O sorriso foi ficando mais largo e eu fugi. Fiquei uma semana sem visitar meu refúgio idílico. Não agüentei mais que essa semana e quando voltei fui recebido quase como um herói de guerra, recebido com sorrisos e reprovações. Como pode um amigo sumir sem mandar nenhuma notícia. Todos ficaram preocupados, o que confesso me deixou bastante lisonjeado. Helena não sorriu para mim nessa noite. Ocupou-se com um gringo do qual tinha esperanças de arrancar bastante dinheiro e em troca o que lhe daria? Todo o seu amor. Olhava-me com certa raiva.
Quando já estava saindo ela veio até mim, estendeu a mão, me entregou um papel e não disse uma sequer palavra. “Domingo. Sete horas em ponto.”
Fui embora com o papel no bolso da camisa e esqueci-me dele ali.
Fui habitué de uma boate que ficava próximo ao centro da cidade. A música era ruim, mas a cerveja gelada era servida em copos grandes por moças nuas. Os clientes eufóricos engoliam de cada vez meio litro de cerveja, como fazia calor lá dentro. Como elas eram sedutoras, insinuando-se para todos com sorrisos largos em seus lábios vermelhos. Quando sentiam sua teia se mexer, essas viúvas negras carregavam suas presas para algum dos vários quartos que havia ali, todos muito limpos e bastante simples. Uma cama e uma mesa. Nessa hora todas eram bastante objetivas. Meia hora depois desciam já de banho tomado, colônia renovada e mais batom nos lábios. Os clientes satisfeitos não queriam mais bebida, pagavam suas contam e saiam para a rua olhando para os dois lados com olhares baixos, desconfiados.
Nunca tive dinheiro para subir com uma delas para os quartos, nem sabia como eram. Sentava-me ali, tomava duas ou três cervejas e assistia àquela movimentação bastante curioso. Esforçava-me para não perder nenhum detalhe, desde um sorriso torto de desgosto até uma mão despudorada na coxa. Quando acabava de beber pagava o que devia e caminhava até minha casa que era perto dali. Tomava um banho e imaginava as noites de sultão que passaria ali se tivesse um salário pelo menos três vezes maior. Gozava, dormia, levantava, trabalhava e depois mais uma vez no bar. Tornei-me amigo da dona e das meninas que me tratavam com gentileza absoluta apesar de sempre estranharem minha abstinência. Com o tempo perdi o tesão. Tudo ficou natural demais.
No começo com os domingos. Era o dia de descanso das meninas e dos clientes que passavam as noites com suas famílias cochilando na frente da televisão enquanto a mulher e os filhos disputavam quem gritava mais. Isso não acontecia comigo. Depois comecei a gostar da folga que me despertava uma pouco de saudade. Kátya, Sabryna, Flavya, Crys, Byanca e Helena. Talvez não fossem seus verdadeiros nomes, o que nunca me importou verdadeiramente, pois para mim tudo aquilo era verdade. A maior verdade era Helena.
Mulata, corpo miúdo, dentes brancos, peitinhos firmes que apontavam indiferentes para o horizonte, a bunda mais linda que já pude ver em toda minha vida. Apenas um defeito: já veio nua. Não tinha a beleza poderosa daquela outra Helena, a de Tróia. Os impérios não iriam se guerrear por seu sorriso. Até usei essa história em uma cantada totalmente mal sucedida. Sorriu-me com desdém e sentou-se no colo de outro. Achou que estava bêbado demais nesse dia.
_ Você ta muito chato!
Resignei-me.
Só depois de duas semanas é que fui perceber um sorriso diferente em minha direção e me fechei. O sorriso foi ficando mais largo e eu fugi. Fiquei uma semana sem visitar meu refúgio idílico. Não agüentei mais que essa semana e quando voltei fui recebido quase como um herói de guerra, recebido com sorrisos e reprovações. Como pode um amigo sumir sem mandar nenhuma notícia. Todos ficaram preocupados, o que confesso me deixou bastante lisonjeado. Helena não sorriu para mim nessa noite. Ocupou-se com um gringo do qual tinha esperanças de arrancar bastante dinheiro e em troca o que lhe daria? Todo o seu amor. Olhava-me com certa raiva.
Quando já estava saindo ela veio até mim, estendeu a mão, me entregou um papel e não disse uma sequer palavra. “Domingo. Sete horas em ponto.”
Fui embora com o papel no bolso da camisa e esqueci-me dele ali.
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