quinta-feira, 4 de junho de 2009

Frutos de uma imaginação moralmente desmotivada pelo desassossego.


E sentado no sofá da sala de sua casa ele fuma mais um cigarro. Light. E pensa. Pensa no comodismo do delivery de comida, na dor no joelho (sempre que esfria seu joelho reclama, não, ele não é um velho, mas as vezes age como se fosse), pensa no abandono atual e até na situação das mulheres no pós segunda guerra.
Uma lagartixa anda solitária por entre as panelas no armário da cozinha, coitada, tão esbugalhada, tão sem pensar no frio malvado para os répteis, ou na crise econômica mundial ou simplesmente na bezerra, mais coitada ainda, morta e motivo de comentários diversos e jocosos.
Ele vai morrer de enfisema pulmonar daqui uns anos. Talvez consiga parar de fumar antes e viva mais alguns anos desgostosos sonhando com cigarros gigantes falantes e entorpecentes envolvendo seu corpo em uma fumaça nirvânica. Talvez morra atropelado, velho.
Ela vai morrer essa noite mesmo. É o frio. Justo ela que nem queria a morte, fazia planos para o futuro, conhecer a Espanha, assistir a todos os filmes de Godard, tomar sorvete de doce de leite. "A vida é sempre menos do que queriamos" é assim que Gilda, a lagartixa (sim, ela tem um nome, o pai era fã de Rita Hayworth) suspira e já não é mais.
Ele sou eu. Ela nunca existiu.

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