terça-feira, 28 de junho de 2011
O Não Acontecido.
Talvez fosse o dia mais frio do ano, e andando pela principal avenida da cidade Gabriel curtia o sol gostoso que estava fazendo na hora do almoço. Nem parecia o meio dia de que todos estavam acostumados a fugir desesperados. E Gabriel com sua carinha de anjo, branco como leite, de cabelos em cachos vermelhos de sangue resolveu se sentar em uma lanchonete para poder comer.
Comeu tranquilo seu sanduíche de pão de gergelim com peito de frango grelhado, com pimentão e alface e mais um pouco de mostarda.
Quando acabou de comer Gabriel saiu da lanchonete e começou a andar devagar pela avenida, a preguiça digestiva praticamente o enfeitiçava, foi quando veio a abordagem.
- Oi tudo bom, posso tomar um pouco do seu tempo?
- O que foi, gostosão?
- É que eu sinto com muita fome, e não tenho grana nenhuma, será que você não podia me ajudar?
- E você vai mesmo comer se eu te der dinheiro?
- Sinceramente não, eu preciso mesmo é de outra coisa.
- Cachaça?
- Não.
- E você faz o que da vida, cara?
- Eu ando pelas ruas... Já tive uma vida diferente, já fui casado. Tenho duas filhas. Eu trabalhava... Mas... Você sabe como é...
- Eu não sei não.
- ...
- Eu só tenho um real.
- Nossa, você me ajudaria demais!
- Mas eu quero pegar no seu pau.
Minutos depois Gabriel e o rapaz desconhecido se despedem, cada um com o que queria, mas carregando uma imensa sensação de total indiferença, afinal, o nada sempre está a espera de novas vítimas.
terça-feira, 7 de junho de 2011
De Uma Moça Feia Trabalhando Em Uma Tarde De Vento.
E o sol batia de frente com os vidros da vitrina. E fazia arder os olhos da moça sentada no balcão a espera de algum cliente. Ninguém aparecia e a tarde passava devagar.
Ela é magrinha demais, quase que emborcada, moreninha, com uma cara de que está sempre assustada. Pintou os cabelos de louro. A Beyoncé também tem os cabelos louros e ela achou que até podia ficar parecida. Não ficou. Ficou mais feia.
E a tarde passa devagar.
E para não dizer que nada acontece hoje o vento está forte, revolto. É o vento da desgraça.
Na loja todas as roupas são brancas. É essa sua especialidade, vender roupas brancas. A patroa, exigente, confere peça por peça a fim de ver se não sujou nada. Todos os dias ela faz tudo sempre igual.
Mas aquele vento la fora...
O sol bate nas roupas brancas e ofusca a visão daquela mocinha feia que tem que fazer careta pra conseguir enxergar.
O vento entra dentro da loja de supetão. Entrou com força e desavisadamente e balançou todas as peças que estavam dependuradas. E junto com ele a poeira. Muita poeira. A moça tem que fechar os olhos lacrimejantes por culpa de toda aquela terra. Um pó fino e vermelho.
Tudo agora tem um tom alaranjado de sujeira. O vento saiu da loja como entrou. Sem avisar ninguém.
A nossa mocinha não consegue pensar. Tudo é sujo. Nada mais é branco como devia.
O sol começa a se esconder também, deixando tudo mais alaranjado.
Ela passa a ponta do dedo em cima do balcão e a olha desesperada. A patroa vai chegar, vai gritar, vai cobrar, vai xingar. As lágrimas também são desesperadas.
Jurema tem tanto medo.
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