terça-feira, 30 de agosto de 2011

35°C.



O sol.
Sabe aquele sol de não se poder enxergar nada? Aquele que te deixa ofuscado? Que deixa o céu um azul claro de tão claro que é? Aquele que te trinca a pele com sensação de pururuca? Aquele que te oprime quando tens que andar pelo asfalto quente? Aquele que faz com que a brisa seja uma coisa desagradável?
Aquele sol está bem aqui.
De pé, encostada à mesa da cozinha uma mulher espreme laranjas em uma tarde tão quente que parece que o mundo vai ser mesmo eternamente ruim.
Uma menina com os cabelos molhados de suor corre pela cozinha gritando mamãe.
O suco escorre dentro da jarra, amarelo, fresco, uma promessa...
No inferno o capeta pede aos seus que botem mais lenha na fogueira porque anda sentindo um ventinho fresco que pode acabar lhe constipando o peito.
A jarra de suco sua.
A menina tem um bigode amarelo.
A mulher passa uma pedra de gelo pelo pescoço.
O diabo veste uma blusa de lã.


Sim, o sol cozinhou a mente deste pretenso autor.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Canhoto.


Uma vez uma faca me cortou o braço direito um palmo acima do cotovelo.
Era uma grande faca negra.
Uma faca grande e afiada.
Uma faca amarga que me arrancou o braço inteiro.

Meu sangue jorrou longe. Muitos litros de meu sangue.
Um sangue verde de medo e mágoa.
O verde sangue da dor.
Eu senti a dor da faca.

Eu não tenho mais o braço. A dor agora é minha eterna.
É a dor a coisa mais minha.
É a dor da minha vida que me corrói aos poucos me tornando inteiro braço.

Pois essa faca é tua língua.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pasmado.


- Vem aqui Maria, estão prontos.
E da cozinha o cheiro de bolinhos de chuva invade a casa úmida. Chove sem parar há quatro dias e o frio e a água começam a se infiltrar pelos joelhos dessa avó caprichosa que tão carinhosamente fritou os bolinhos que tão bem acompanham a chuva.
A menina corre sem parar de um lado para outro. É felicidade demais: é o bolinho, a cachorra, os papagaios, a chuva que não para, o agasalho cor-de-rosa. Tudo é extremamente impressionante.
- Vovó...
- Que é?
- Segura meu bolinho aqui. O mosquito foi com o cavalo no mercadinho comprar tetê pra Duda.
- Ah...
A avó observa a menina pelo canto dos olhos.
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