domingo, 20 de janeiro de 2008

Sobre namoros e pomares.


Um rapaz passa em frente a casa verde de número 210 apressadamente. Não lhe interessa o que acontece dentro dos muros verdes daquela casa. Segue seu destino, obstinado e ansioso. Se lhe interessasse abrir a porta e entrar veria e ouviria muita coisa. Uma mãe que fritava peixe e que perfumava a casa toda com alho e pimenta. Um filho que lhe ajudava fazendo um molho qualquer. Um pai que joga cartas virtuais no computador, praticamente hipnotizado. Se prestasse bastante atenção veria um amigo do filho cochilando na sala, fingindo assistir a um filme.
De repente a cena muda. A mãe já não frita mais os peixes e sim os saboreia com o molho qualquer que o filho fez, porque ele sabe fazer um molho qualquer como ninguém. O amigo busca a cerveja gelada e serve os copos. A mãe sempre que bebe lembra das histórias da infância, num tempo que já passou há muito, mas que ela acredita não ser tanto. Lembrou-se dessa vez que uma prima mais nova havia enfiado uma semente de laranja no nariz em uma certa ocasião. O riso histérico, longo. O amigo pergunta: "E tirou?"
A mãe até quis responder que não, que na verdade o ranho do nariz é muito fértil e que a laranjeira brotara. Dava duas laranjas por estação.
"Tirou sim, Graças a Deus."
O filho bebe, o amigo bebe, a mãe bebe. Todos riem de outras histórias sem sementes. O pai continua inerte no computador. A poucos quarteirões dali o rapaz chega à casa da namorada. Era esse o destino. O motivo da ansiedade? Saudade. O que ele não sabe é que dentro de quarenta minutos vai fazer o caminho de volta, passando de volta em frente ao 210 verde. A namorada vai terminar tudo: "Você me sufoca!".

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