15 de outubro. Quando Margarida se levantar vai se sentir com cem anos. E realmente os tem. É o seu aniversário. Cem anos é muita coisa e ela vai saber durante o dia todo o que é tê-los. Não vai comemorar o aniversário, aliás, já faz bastante tempo que não comemora nada. Apenas espera. Não é infeliz e não se sente mau com a idade. À partir de um tempo a vaidade não nos persegue mais. É feliz à sua maneira, apenas, simplesmente, não vê motivos para comemorar. Sozinha, irá fazer festa pra que? Vai ficar o dia todo tentando se lembrar do dia em que conheceu o falecido marido, num parque de diversões em uma cidade do interior. Dessas cidades quentes do interior. Vai tentar se lembrar de que cor era a camisa que ele estava usando, o cheiro da colônia, o toque do vestido novo sobre a pele nova. Vestido de domingo. Não conseguirá se lembrar de muita coisa. Não consegue encontrar na memória a primeira música que ouviram juntos. O algodão doce não deixou o gosto na boca. Também, tanto tempo depois. Tudo é difícil demais. Aquele foi um dia feliz. Hoje vai ser um dia normal. E quando se deitar vai sorrir, lembrando dos olhos azuis do marido morto. O resto não vale lembrar.
Não vai ter dia 16.
Não vai ter dia 16.
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