terça-feira, 26 de abril de 2011

O Autor Se Vê Obrigado a Dizer Que É Tudo Verdade.


Eram quase seis horas e a velha, sentada em uma cadeira quase tão velha, olha o sol se pondo devagar enquanto o córrego corre pelo barranco abaixo. Ela balança as pernas no barranco.
A velha vai fazer setenta e dois anos e há cinquenta e três balança as pernas no barranco. Não todos os dias, nem todas as horas porque sempre se tem o que fazer. Ela não olha para o córrego, ela não vê lá embaixo o esgoto de toda a cidade correndo em baixo dos seus pés, ela não vê a dor de barriga alheia, a espuma de detergente, o esgoto da fábrica, os gatinhos jogados, o colchão boiando.
Apenas o por do sol quase acabando.
Ela entra para dentro da casa velha também. Tudo ali parece ter a mesma idade, tudo meio retorcido, fedido, tudo com a mesma cara torta de nojo. A garrucha também tem essa cara.
Um tiro no peito.
Ela não morreu.
E todos os filhos que a abandonaram naquele lugar fedido vieram perguntar-lhe o que aconteceu, e todos em volta da cama do hospital público olham com caras de espanto, dó e perdão.
Porque?
Maldito córrego, maldito vizinho, mal quista família, mal tida vida.
E a maior tristeza do mundo pousou sobre seus ombros.

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