segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu disse oi. Talvez ele não tenha visto...


Ultimamente chove todos os dias. E chove o dia todo também. E vem um sol regalado. Tudo intercalado e bem costurado como é de se acontecer quando são coisas naturais. Tinha parado um pouco a chuva e Dudu saiu para ir na padaria. A mãe tinha pedido que ele buscasse tres pães para tomarem um lanche. É impressionante como para um menino de oito anos três quarteirões podem ser tão longos e talvez tão interessantes. Dudu ia andando meio pulando meio parando, olhava para o alto e para baixo e para os lados e via tudo e não via nada como acontece quase sempre com as crianças. Se não fosse essa predisposição para o delirio caminhante infantil ele teria visto o cachorro. Sentiu apenas os dentes rasgando sua coxa. O cachorro marrom babava histéricamente e arrastava o menino pela calçada. Quanto mais mordia mais prazer sentia e não via nada. O menino também não via mas por outros motivos. Sentia a dor do mundo entrando-lhe pela perna como ferro quente, sem dó lhe rasgando os músculos de novilho humano e a cabeça batendo pelo ladrilho e os braços esfolados e as lagrimas escorrendo.
Ninguém ajudou, ninguém viu.
Quando conseguiu arrancar o pedaço o cachorro saiu.
O menino ficou sangrando, chorando, as moedas espalhadas pelo chão, o coração acerelado de maneira incontrolável.
O cachorro não comeu a carne do menino, cuspiu fora o pedaço que arrancou e foi se deitar embaixo de uma sombra tranquila.
O menino foi encontrado pela mãe preocupada com demora de mais de cinco minutos. Ela o levou ao médico, cuidou, chorou, abraçou...
O menino manca, e vai mancar pelo resto da vida.


É assim que me sinto hoje.

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